14 de maio de 2016

Dez razões para fazer "Cicloturismo"

A UNESCO definiu em 1957 o que eram férias: “Conjunto de ocupações a que um individuo se pode entregar para descansar, divertir-se ou desenvolver a sua personalidade, após ter cumprido as obrigações profissionais, familiares ou sociais”. Ou seja, justamente o contrário do que se costuma fazer quando estamos de férias.Viajar de bicicleta, no entanto, aproxima mais esse conceito de férias: nada de reunir com a família, nada de limpar o apartamento em frente à praia, nada de filas intermináveis de automóveis.

Permite conhecer verdadeiramente os países onde a bicicleta é um meio de transporte importante, como a Suíça ou a Holanda. Nestes locais, não só os condutores respeitam os ciclistas, como é impensável alguém forçar um cadeado e roubar uma bicicleta: basicamente porque muitas nem sequer usam cadeado. Ignoro a razão deste facto. Talvez seja uma mistura de civismo e do facto de todos terem a sua própria bicicleta: para quê então roubar mais uma? Uma explicação possível é dada por Tom Vanderbilt no seu livro Traffic. O que diz Vanderbilt é que, quanto maior for o numero de bicicletas numa cidade ou país, mais difícil é haver acidentes com bicicletas: os carros, simplesmente, são mais prudentes quando existem demasiadas bicicletas em circulação. Para além disso, este efeito é circular: quanto mais lentamente e prudentemente conduzirem os carros, mais aumenta o número de ciclistas e de peões, o que por sua vez faz com que os condutores sejam ainda mais lentos e prudentes. À medida que aumenta o número de peões ou ciclistas, os índices de vítimas de acidentes per capita começam a descer.

A bicicleta parece estar na moda, sobretudo agora que o custo do petróleo está a ficar cada vez mais caro. Não será em vão, que as acções da Giant Manufacturing, o maior produtor mundial de bicicletas, alcançaram o seu máximo histórico na Bolsa de Taipei, o que demonstra bem os tempos que vivemos.

Com uma bicicleta pode e deve levar tudo o que precisa nos sacos. Irá certamente enfrentar dias frios ou chuvosos, furos nas rodas, caminhos duros. É preciso estar precavido contra os imprevistos. O cicloturismo não é apenas uma viagem, nem sequer somente turismo. Também é um desafio, como um par de marinheiros que se alistam num barco pirata para fugir das vidas rotineiras: sabem que podem encontrar ouro e aventuras, mas também tempestades e doenças. Aqui não se está à espera de conforto ou relaxamento. Ou pelo menos, não será fundamental sentir conforto e relaxamento para que a viagem valha a pena. O cicloturista quer regressar com anedotas, boas ou más, e também lhe apetece que, ao chegar a casa, lhe passe pela cabeça a seguinte ideia: “Meu Deus, que bem que se está aqui no conforto do lar”, parafraseando Dorothy em o feiticeiro de Oz. O cicloturista quer testar os seus limites. Quer sentir-se vivo, especial, cansado, satisfeito. Fazer com que a vida valha a pena. Quer evitar sentir que não viveu a vida ao máximo. Quer evitar com todas as forças uma reflexão obscura de um jornalista da CBS, Charles Kuralt, que disse o seguinte: “Graças ao sistema interestatal de auto-estradas, agora é possível viajar de costa a costa sem ver nada”.

O cicloturismo torna-o mais inteligente. Segundo um estudo da Universidade da Columbia dirigido por Scott Small e Ana Pereira, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Science, o exercício estimula o nascimento de novos neurónios na região cerebral do hipocampo, uma zona relacionada com a memória e a aprendizagem. Já o adivinhava quem dizia «mens sana in corpore sano», mas agora a neurociência confirma-o. O exercício aeróbico regular, para além disso, não só faz bem ao cérebro, como ainda atrasa o envelhecimento. Para que os efeitos sejam reais, é preciso correr, fazer treino cardiovascular moderado, e não apenas alongamentos ou exercícios de tonificação. É preciso fazer trabalhar o coração e encher os pulmões, para que também o cérebro se reactive

Países de grande tradição ciclista, como a Suíça, dispõem de uma excelente rede de aluguer de bicicletas: sendo possível levantar uma bicicleta numa estação de comboios e deixá-la em qualquer outra estação, por exemplo. O preço por um dia completo de aluguer era de aproximadamente 20 euros.

Existem ainda serviços de bicicletas gratuitos, como o oferecido na cidade de Berna. A razão de haver cidades com serviços gratuitos de bicicletas não é fácil de explicar. Por exemplo, em Paris, os commuters (pessoas que viajam diariamente da sua casa para o trabalho) podem usar uma bicicleta gratuitamente durante 30 minutos. É uma iniciativa que começou em 2007 com apoio publicitário e baptizada por Velib´. No entanto, o serviço de bicicletas Cyclocity existente em Bruxelas não funciona muito bem. A razão é explicada por Chris Anderson no seu livro Free:

A Velib´fornece um serviço a mais vizinhos numa variedade de zonas em vez de estar presente apenas em determinados bairros. Como resultado, muitos dos utilizadores são commuters diários, o que contrasta com Bruxelas, onde apenas existem 250 bicicletas disponíveis em 23 pontos concentrados no centro da cidade. Em qualquer dos casos, porque não ampliar o serviço a outras áreas de Bruxelas? A empresa Clear Channel (a concorrência) tem contratos publicitários para certas zonas, e isso impede a Cyclocity de implantar nessas zonas os seus próprios pontos com a publicidade, que será essencialmente o motor do “negócio”.
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